15.9.07

Múrmurios de um homem seco

Apesar de tudo, a cada manhã, o sol novamente resplandece poesia. E eu, quando posso, continuo pensando que será mais um dia. Meus lábios já se ressecaram como o chão; e o que há pra beber, muitas vezes, nem escorre pelo rosto. Os olhos que antes olhavam o doce brilho da mulher que ontem se foi, hoje só observam as crianças que ficaram aos meus pés ajoelhadas, quando aquela saiu para nunca mais voltar. Disseram-me que em algum lugar, bem longe, as coisas são melhores, mas eu ainda estou pensando. Dizem que lá é que se vive de verdade. Dizem que lá o sol nasce para todos; só a sombra que não é verdadeira, pensei. Mas eu prefiro aqui. Aqui é o meu lugar. Ouço daqui os gritos que ecoam por lá. E não quero participar daquela peça.

N. Lopes