25.10.07

Apagar-me

Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.


Paulo Leminski

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23.10.07

Sonhos


Voltando a pensar no que mais sentia doer, não via motivo, muito menos saída para tudo que estava vivendo. Desde alguns dias, andava por um labirinto formado de espinhos e, a cada dia, os espinhos cresciam e se tornava mais difícil caminhar para qualquer lugar que fosse, pois, saída, nem acreditava que poderia existir. Os cortes e arranhões não se cicatrizavam e por onde andava uma parte de si era perdida pelo caminho.

Por mais que lhe insistissem em dizer que sonhos têm que ser sonhados com cuidado, prudência e ao mesmo tempo audácia e um pouco de loucura, já havia cansado de pensar na beleza das coisas, já que sempre lhe davam motivos para desacreditar em sonhos. Sabia que não podia ser assim, embora o fosse. E os dias passavam, enferrujados.

Nairo Lopes


11.10.07

Paciência

A viagem vai começar. Tenho um segundo, antes que outros apareçam, pra descobrir o que ainda me falta. E é neste segundo que a memória me restitui um sonho antigo,recorrente, daqueles sonhos em que se juntaram todas as cores do mundo: por um lago de águas baixas, de pouco mais que um palmo de altura, avanço na direção de um Palácio, enquanto a água faz um rumor de seda rasgada. Avanço por este lago, nu, sob o sol claro, e aos lados há a mesma árvore enorme e quieta. Não sei o que isto significa, que coisas estão sendo murmuradas neste sonho, mas certamente o tempo futuro me dirá.

Nu, avançando as águas, tão simples, como uma lei que tudo explicasse.

Little Paul

3.10.07

EnlouquecidaMENTE

No corpo cálido escorria leve e enlouquecidamente uma gota de suor. No pulsar do peito ouviu as palavras que lhe dizia o silêncio e viu coisas realmente difíceis de notar. Na melena viajou por noites e na aurora sentiu-se rei. E, ao tocar o corpo, numa passagem, sentiu em sua boca o sabor do éden. Os olhos faziam-no alucinado em uma leve e enlouquecida mente.

As luzes ao seu redor guiavam-no na escuridão e, sendo assim, não se importava aonde chegaria, pois direções não lhe diziam nada mais do que o silêncio. Mas o silêncio do outro corpo o diz o que queria e devia ouvir. E o que queria era não saber, não acordar, não ter mais olhos opacos para enxergar. Pois, para ele “o amor era um demônio desgraçado que vivia a lhe passar rasteiras”. Mata-lo haveria se, porventura o notasse, mas, ao menos o podia ver. Pálido, despertou em mais uma manhã. E planejara todo o seu dia em menos de um piscar de olhos. E, ao olhar-se no espelho, viu “o indivíduo e a muralha. O indivíduo contra a muralha”.

N. Lopes


2.10.07

"Alegria"


















Nós somos mentes pensantes

De um mundo atrofiado.

O que nos balança por dentro

Não é mais o amor,

Mas sim o barulho ensurdecedor

Dos trios elétricos

Que aparecem à noite, alcançando a madrugada.

E quando chega a manhã,

Eu nem sei mais quantas máscaras usei.

N. Lopes